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Tênis sobre rodas |
Em 2001, ao ser rejeitado a uma vaga de emprego por causa de sua dificuldade de locomoção, Martins entrou numa crise de depressão que o levou à quarta tentativa de suicídio, ao rasgar o pescoço com uma garrafa quebrada. “Percebi o preconceito das pessoas. Não fazia sentido viver”, explica. Com um quadro grave de depressão, Martins foi salvo por um amigo que o levou ao hospital, onde, além de curar os ferimentos, teve de fazer acompanhamento psicológico e psiquiátrico. “Mesmo assim, quando chegava sexta-feira eu não agüentava pensar que todo mundo estava se divertindo enquanto eu ficava em casa”, confessa.
Há três meses, no entanto, a vontade de desistir de tudo vem sendo substituída por uma crescente auto-estima. Martins conheceu o pólo de Ceilândia do Programa Inserir de Desenvolvimento do Tênis em Cadeira de Rodas e passou a praticar o esporte junto a outros cadeirantes. “Antes, pensava comig de aleijado já basta eu. Hoje, sei que tive sorte de ser salvo de mim mesmo. A melhor coisa que me aconteceu foi começar a sair com esse pessoal do tênis”, comemora.
Como Martins, existem cerca de 24 milhões de portadores de necessidades físicas no Brasil, dos quais apenas 9 milhões se encontram no mercado de trabalho. O preconceito da sociedade, a falta de oportunidades e até o esquecimento de que eles existem por parte do Governo, faz com que programas, como o Inserir, se tornem uma oportunidade única na vida de pessoas que buscam apenas uma chance de demonstrar que ainda são capazes de servir à sociedade.
Criado em 1997, pela ex-tenista profissional, Cláudia Chabalgoity, o programa Inserir tem como principais objetivos favorecer a reinserção social de pessoas que tenham alguma deficiência física que dificulte a locomoção por meio do esporte, além de estimular atletas capazes de participar em competições oficiais. Segundo a vice-presidente da Inserir - Inclusão Social, Organização Não Governamental que promove o programa, Suzana Dàlet, os resultados são percebidos logo no início do treinamento. “Os cadeirantes passam a ter maior disposição e percebem que são capazes de praticar um esporte. Isso ajuda na recuperação”, explica.
Com o treinamento, surgem aos poucos a recuperação da auto-estima, a vontade de jogar, de encontrar e fazer novas amizades, e inclusive a de competir oficialmente. Carlos Marcelo Feitosa, 27 anos, também vítima de arma de fogo há oito anos, na Ceilândia, participa do programa há três meses e já faz planos. “Quero participar de um campeonato. Mas para isso tenho que lutar muito ainda”, afirma. Na mesma direção, Cid Mucholowski, 23 anos, encaminha seus sonhos e disposição. “Com certeza quero participar de um campeonato. Acho que deveríamos aumentar as aulas para três vezes por semana”, brinca.
Ao todo, o programa inédito no Brasil, conta com quatro pólos no Distrito Federal. O da Vila do Tênis, onde são treinados os participantes com potencial competitivo, hoje com oito pessoas. O da Academia de Tênis Resort, onde é dado um reforço de treinamento aos atletas da equipe de competição do programa. O pólo de Planaltina, onde são treinados seis cadeirantes e o de Ceilândia, onde 20 pessoas treinam todas as semanas. Ao todo, 38 cadeirantes participam do programa.
Para garantir o alcance social da iniciativa, de forma a abranger portadores de necessidades especiais de todas as camadas da sociedade, o treinamento, raquete, bola, cadeiras esportivas, bem como o transporte do cadeirante até as quadras são providenciadas pela ONG, que oferece também acompanhamento psicológico. Para a realização do programa a Inserir - Inclusão Social fez parceria com a Secretaria de Esporte e Lazer do GDF, o Instituto Candango de Solidariedade e o Banco do Brasil, patrocinador do programa.
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