Por Prof. Dr. Ludgero Braga Neto
Esta fase do saque recebe o nome da letra "W", que é formada entre os braços e a cabeça do tenista. Nos EUA é chamada de "
trophy position", ou "posição de troféu". É a fase final da preparação do saque, marcada pelo posicionamento da
ponta da raquete e
mão que lançou a bola para cima. Confira nas fotos abaixo, mais alguns exemplos desta fase em tenistas profissionais:
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DISTÂNCIA ENTRE O BRAÇO E O TRONCO
Esta é uma importante variável técnica que auxilia na geração da potência durante o saque. Quando o sacador mantém o braço mais afastado do tronco, sua raquete poderá ser posicionada mais distante da bola que foi lançada, e assim a distância em que a raquete poderá ser acelerada até atingir esta bola também será maior. Quanto mais o sacador acelerar a raquete até o ponto de contato com a bola, maior será a velocidade com que as cordas da raquete farão o contato com a bola, e assim, maior será a potência do saque!! Perceba esta diferença no tenista abaixo. Em uma primeira análise desta fase do saque, percebemos que a distância entre o braço e o tronco era zero, ou seja, o cotovelo estava "colado" no tronco. Com esse posicionamento do braço, o tenista trazia a raquete à frente antecipadamente, diminuindo assim a distância para acelerar a raquete até a bola e, consequentemente, perdendo potência.
Para corrigir esta falha técnica, utilizamos um treino bem simples, baseado no Método Parcial, da
USPTR (United States Professional Tennis Registry). O método consiste em realizar o saque a partir da fase onde deve ocorrer a mudança. Neste caso, o tenista deve iniciar o saque a partir da Fase 3 (Fase "W"). Esta pausa é muito importante para que o tenista desenvolva a propriocepção, e assim tenha noção do posicionamento de seus segmentos corporais no espaço. Veja o vídeo do Método Parcial abaixo:
FLEXÃO DOS JOELHOS
Nesta fase, o sacador atinge o grau máximo de flexão dos joelhos, que deve ser por volta de 110 graus, como indicam alguns estudos científicos. Esta flexão é necessária para impulsionar o tenista
para cima (
força de reação do solo) e
para frente (
momento linear) na fase seguinte. Se este grau de flexão for pequeno, a fase de extensão dos joelhos será prejudicada. E, como veremos na próxima fase, esta extensão é responsável por gerar potência e colocar o sacador em fase aérea, podendo atingir a bola em uma maior altura e assim facilitar a passagem da mesma sobre a rede.
Grau de Flexão dos Joelhos
Em minha Tese de Doutorado, utilizei um aparelho chamado
Eletrogoniômetro, que tem a finalidade de medir com precisão a variação angular entre dois segmentos corporais. Neste caso, entre a coxa e a perna. Este equipamento é constituído de duas hastes ligadas à um potenciômetro de rotação, que funciona como transdutor. Veja as fotos:
Eletrogoniômetro
Dica de Treino - um dos possíveis treinos utilizados para aumentar o grau de flexão dos joelhos, e também aumentar a extensão, é sacar saltando sobre uma folha de papel. Depois de uma certa prática, você pode saltar sobre o cabo da raquete. Veja este treino abaixo, em vídeo:
TOSS - COMO LANÇAR A BOLA CORRETAMENTE
Sempre ouvimos que o
toss é um importante aspecto técnico do saque. Alguns técnicos até ousam quantificar sua importância: "o lançamento representa 50% do saque...". Obviamente, como são vários os fatores determinantes em um saque, não existem pesquisas que consigam revelar esta participação do
toss. Porém, mesmo sem esses dados, sabemos que se o tenista lançar a bola de forma incorreta, terá que reposicionar alguns segmentos corporais para "consertar" o saque. Mas como as regras do tênis nos permitem abortar o saque e iniciá-lo novamente, essa improvisação não é necessária, e portanto, pouco inteligente. O toss pode variar de acordo com os possíveis efeitos gerados no saque:
Flat (também conhecido como chapado),
Slice (também conhecido como cortado) e
Kick (também conhecido como
Topspin ou
American Twist). Estas variações serão discutidas em um Capítulo à parte. Neste Capítulo, tomaremos como base o saque
Flat. E para discutirmos o
toss de maneira adequada, precisamos considerá-lo e 3 dimensões, ou 3 eixos:
EIXO ÂNTERO-POSTERIOR - é
É o eixo desde a linha de base até a rede. O tenista deve lançar a bola dentro da quadra, ou seja, à frente de seu corpo. Isso forçará o tenista a se desequilibrar/movimentar para frente, aumentando assim seu
momento linear, que como vimos anteriormente, é uma importante fonte de potência. Esse "desequilíbrio" deve ser causado principalmente pela ação do ciclo de flexão/extensão dos joelhos. Veja o exemplo no vídeo abaixo:
EIXO LATERAL
É o eixo traçado entre as linhas laterais da quadra. Os tenistas destros devem lançar a bola um pouco à direita. Desta forma poderão utilizar eficientemente a rotação do quadril e ombros. Quando o tenista (destro) lança a bola à esquerda, terá que realizar uma hiperextensão da coluna, podendo sofrer alguma lesão nesta região ao longo do tempo. Estudos mostraram que treinos com alta intensidade e repetição de gestos como a hiperextensão da coluna, aplicados em tenistas durante a fase de crescimento, aumentam substancialmente o risco de alterações degenerativas/patológicas nesta região. Veja a foto abaixo, que demonstra o movimento de hiperextensão da coluna durante o saque:
Observação: - como técnico de infanto-juvenis, percebo que este erro técnico no
toss é bastante comum entre os tenistas. Para exemplificar, repare no tenista acima e à direita, de 12 anos. Ele executa o
toss à esquerda, e então é forçado a executar uma acentuada extensão na coluna. De outra forma, o tenista à esquerda, de 18 anos, apresenta técnica aceitável se compararmos aos padrões biomecânicos. Percebo que muitos destes jovens tenistas, mesmo sendo esforçados, apresentam sérios problemas técnicos. Além do treinamento, alguns tenistas procuram treinar mais 100, 150, até 200 saques por dia. O problema é que treinar sem informação prévia, induz o tenista a reforçar e acentuar seus erros.
Dica de Treino - a próxima dica de treino pode ser utilizada para os 2 eixos do
toss descritos acima. Confira no vídeo abaixo:
EIXO DAS ALTURAS
Por último, analisaremos a eixo das alturas. Em teoria, a altura em que o tenista deve lançar a bola é exatamente no ponto de máximo alcance do tenista. Este ponto está demostrado na foto abaixo. Perceba que levo em consideração a distância da fase aérea, além de toda a extensão dos segmentos corporais. Se o tenista conseguir lançar a bola só até este ponto, poderá golpeá-la em velocidade zero (v=0), que seria o instante onde a bola muda de sentido (da fase ascendente para a fase descendente). Se isso ocorrer, com certeza a precisão do sacador será maior, pois este rebateria um alvo imóvel. Porém, na prática, isso é muito difícil de ocorrer. Muitos tenistas lançam a bola um pouco acima deste ponto, portanto golpeiam a bola em sua fase descendente. A teoria de lançar a bola no ponto de máximo alcance seria mais eficiente para o saque
flat, que requer uma maior precisão devido à maior potência.
Ponto de Máximo Alcance
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Portanto, não se preocupe se você lança a bola um pouco mais alto que o ponto de máximo alcance. Por outro lado, se você lançar a bola muito mais alto que este ponto, como mostrado no exemplo acima, a potência de seu saque será prejudicada por dois motivos:
1) o ritmo do saque será interrompido, pois você terá que "esperar" a bola subir, parar e voltar até o ponto de máximo alcance; e
2) você terá que golpear a bola em sua fase descendente, ou seja, em movimento. A chance de errar este cálculo extra será maior. Se isso acontecer, importantes movimentos que geram potência, como a extensão do cotovelo por exemplo, ficarão prejudicados.
Para exemplificarmos as citações acima, o próximo vídeo mostra os 3 tipos de saque quanto ao
toss e ao ponto de contato: na fase descendente, próximo ao ponto de máximo alcance e na fase ascendente.
TÉCNICA DE POSICIONAMENTO DOS PÉS
Basicamente, existem duas possíveis técnicas de posicionamento dos pés nesta fase do saque:
Foot-back e
Foot-up. Neste Capítulo, apenas descreverei as técnicas, e em Capítulo à parte, discutiremos as vantagens e desvantagens de cada uma.
Foot-back: técnica que consiste na manutenção da distância entre os pés durante a execução do saque;
Foot-up: técnica que consiste na aproximação entre os pés durante a execução do saque.
Aguardo os comentários, que podem conter dúvidas, críticas, sugestões...
Forte Abraço, e até o próximo
post...
Prof. Dr. LUDGERO BRAGA NETO é Mestre e Doutor em Biomecânica do Tênis pela USP. Tenista 1ª Classe pela Federação Paulista de Tênis, é Coordenador Técnico da Academia Slice Tennis. Também é professor da disciplina Tênis na Escola de Educação Física e Esporte da USP e realiza Consultoria para clubes e academias.
Contatos pelo fone (11) 9281-2177
ludgero@usp.br