O que é atenção?
A atenção é o processo que direciona nossa vigília quando as informações são captadas pelos nossos sentidos, ela também pode ser vista como um mecanismo que consiste na estimulação da percepção seletiva e dirigida (Guallar & Pons, 1994; Martens, 1987; Samulski, 2002). Dentre seus diversos tipos destaca-se a concentração que pode ser definida como a focalização da atenção em um determinado objeto ou em uma ação (Samulski, 2002). No esporte ela é a habilidade de focalizar em estímulos relevantes do ambiente e de manter esse foco ao longo do evento esportivo (Weinberg, 1988; Weinberg & Gould, 2001) e ela pode ser dividida em três partes: concentração em sinais relevantes, manutenção do foco de atenção todo o tempo e consciência da situação.
Qual foco utilizar?
Um outro aspecto da atenção, o tipo de foco utilizado, é de suma importância para o processamento seja adequado e eficiente (quadro 1). Para Cervelló (1999) pode-se identificar quatro tipos de focos: amplo interno, amplo externo, estreito interno e estreito externo.
Quando um indivíduo mantém o primeiro tipo de foco, ele é capaz de organizar e integrar um grande número de pensamentos e percepções, é o estilo adequado para analisar e planejar ações. O segundo estilo permite ao sujeito explorar, perceber e organizar um grande número de estímulos externos, é o foco adequado frente à situações complexas e com um grande nível de informação. O terceiro tipo auxilia a pessoa a focalizar a atenção para uma determinada linha de pensamento, e é adequada para solucionar problemas concretos ou para meditar. O último estilo atencional ajuda o indivíduo a focalizar a atenção para uma atividade mais ou menos complexa evitando as distrações, com o objetivo de realizar uma determinada ação, e é adequado para um grande número de esportes.
A amplitude do foco faz referência à quantidade de estímulos aos quais o atleta deve prestar atenção a cada instante. Sendo que o foco amplo está relacionado com um grande número de estímulo e o foco estreito com apenas um ou dois estímulos mais importantes. Já a direção do foco, faz referência a dirigir a atenção para aspectos externos ou internos do indivíduo.
Uma pesquisa realizada na Espanha por Solanellas, Font & Rodríguez (1996) com jogadores de tênis sobre estilos atencionais (215 tenistas do sexo masculino e 215 do sexo feminino, com idades variando de 12 à idade adulta), os autores utilizaram uma versão adaptada do teste TAIS de Nideffer (1976), onde mostrou que a grande maioria dos jogadores usava um foco estreito durante os jogos (83.85%). Já em relação à direção do foco, os resultados mostraram uma predominância do foco externo (64.60%), porém com uma diferença significativa entre sexo masculino (58.8%) e feminino (71.1%).
Diversos autores realizaram pesquisas relacionando o tipo de foco de atenção e o desempenho, entre os quais destacam-se Robazza, Bortoli & Nougier (1998) que trabalharam com atletas de alto nível, do sexo feminino, da seleção italiana da modalidade de arco e flecha; Radlo, Steinberg, Singer, Barba & Melnikov (2002) com indivíduos que deviam lançar dardos tentando acertar num alvo na parede, os sujeitos eram divididos em dois grupos, um com foco interno e outro com foco externo; Shea & Wulf (1999) avaliou a influência sobre a aprendizagem da atenção num foco externo ou interno e do feedback de foco externo ou interno. Wulf, McConnel, Gärtner & Schwarz (2002) realizaram um estudo com dois experimentos realizados no campo, um com voleibol e outro com futebol. Os resultados desses estudos indicam que o uso do foco de atenção externo, em atividades "fechadas" (saque no tênis), está relacionado com um melhor desempenho nas tarefas executadas pelos sujeitos.
Conclusão
Antes de cada ponto e durante os intervalos entre os pontos os jogadores devem preparar-se da melhor maneira possível para que sua atenção seja adequada ao iniciar o ponto. É importante que esses saibam que tipo de foco utilizar nas diversas situações do jogo. No saque o tenista tem controle sobre a situação, sobre a bola a ser lançada e tem tempo para decidir o que pretende fazer. Além disso, os autores afirmam que neste tipo de tarefa o atleta pode preparar uma estratégia, um plano de ação, um protocolo, uma rotina ou um ritual pré-performance (Lindor & Singer, 2003).
Essa rotina é dividida em fases que auxiliam o tenista a manter a sua atenção durante os jogos. Ela geralmente é composta de atividades que exigem mudanças de foco de atenção, tais como: olhar para as cordas da raquete (foco externo - estreito), relaxamento e respiração (foco interno - estreito), plano tático para o ponto (foco interno - amplo), visualização (foco interno - estreito) e focalização do alvo (foco externo - estreito). Na devolução os tenistas também devem estabelecer rotinas e manter um foco externo - estreito para detectar indícios, no movimento de saque do adversário, que permitam antecipar o tipo de bola e a sua trajetória, melhorando a eficiência da resposta.
• Cervelló, E. M. G. (1999). Introducción al entrenamiento psicológico. Em J. P. F. García (Org.). Enseñanza y entrenamiento del tenis. (pp. 145-182). Cáceres, Espanha: Universidad de Extremadura. Servicio de publicaciones.
• Guallar, A., Pons, D. (1994). Concentración y atención en el deporte. Em I. Balaguer (Org.), Entrenamiento Psicológico en el Deporte. (pp. 207-245). Valencia, Espanha: Albatros Educación.
• Lindor, R., Singer, R. N. (2003). Preperformance Routines in Self-Paced Tasks: Developmental and Educational Considerations. Em R. Lindor & K. P. Henschen (Org.), The Psychology of Team Sports. (pp. 68-98). Morgantown, Estados Unidos da America: Fitness Information Technology, Inc.
• Martens, R. (1987). Coaches guide to sport psychology. Champaign, Estados Unidos: Human Kinectics Publishers.
• Murray, J. F. (2002). Tenis inteligente: Como jugar y ganar el partido mental. Barcelona, Espanha: Editorial Paidotribo.
• Radlo, S. J., Steinberg, G. M., Singer, R. N., Barba, D. A., Melnikov, A. (2002). The influence of an attentional focus strategy on alpha brain wave activity, heart rate, and dart-throwing performance. International journal of sport psychology, 33 (2), 205-217.
• Robazza, C., Bortoli, L., Nougier, V. (1998). Physiological arousal and performance in elite archers: A field study. European psychologist, 3 (4), 263-270.
• Samulski, D. M. (2002). Psicologia do esporte. Barueri: Manole.
• Shea, C. H. & Wulf, G. (1999). Enhancing motor learning through external-focus instructions and feedback. Human movement Science. 18, 553-571.
• Solanellas, F., Front, J. & Rodríguez, F. A. (1996). Prevalencia del estilo atencional en la población catalana de tensitas. Apunts Educación Física y deportes, 44 - 45, 154-163.
• Weinberg, R. S. & Gould, D. (2001). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. (M. C. Monteiro, trad.). Porto Alegre: Artmed. (2aEd.).
• Weinberg, R. S. (1988). The mental advantage: Developing your psychological skills in tennis. Champaign, Estados Unidos: Leisure Press.
• Wulf, G., McConnel, N., Gärtner, M. & Schwarz, A. (2002). Enhancing the learning Sport Skills through External-Focus Feedbac. Journal of Motor Behavior, 34(2), 171-182.
Laurent Olivier Abes | |
Trabalha com tênis desde 1994, sendo sócio-proprietário da Mental Tennis Serviços Esportivos Ltda. É formado em Educação Física e Mestre em Psicologia pela Universidade Fededal de Santa Catarina (UFSC). Desde 2003, dedica-se a treinamento mental. É membro do Laboratório de Neurociências do Esporte e do Exercício da UFSC e do Núcleo de Estudos em tênis da Campo da UFSC. e-mail: laurentabes@hotmail.com |
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