terça-feira, 23 de novembro de 2010

Foco de atenção no tênis


 
Roger Federer se concentrando para o saque.
 
O controle da atenção pode ser considerado como uma habilidade de grande importância na hora de desempenhar qualquer atividade. No esporte de rendimento, qualquer perda de atenção pode influenciar diretamente no resultado final do jogo ou da competição. O tênis tem a característica de que a perda de um ponto no momento errado pode causar a derrota. Este artigo tem por objetivo abordar alguns aspectos teóricos relacionados com o foco de atenção no esporte e sua relação com o melhor desempenho nas atividades.
O que é atenção?

A atenção é o processo que direciona nossa vigília quando as informações são captadas pelos nossos sentidos, ela também pode ser vista como um mecanismo que consiste na estimulação da percepção seletiva e dirigida (Guallar & Pons, 1994; Martens, 1987; Samulski, 2002). Dentre seus diversos tipos destaca-se a concentração que pode ser definida como a focalização da atenção em um determinado objeto ou em uma ação (Samulski, 2002). No esporte ela é a habilidade de focalizar em estímulos relevantes do ambiente e de manter esse foco ao longo do evento esportivo (Weinberg, 1988; Weinberg & Gould, 2001) e ela pode ser dividida em três partes: concentração em sinais relevantes, manutenção do foco de atenção todo o tempo e consciência da situação.

Qual foco utilizar?

Um outro aspecto da atenção, o tipo de foco utilizado, é de suma importância para o processamento seja adequado e eficiente (quadro 1). Para Cervelló (1999) pode-se identificar quatro tipos de focos: amplo interno, amplo externo, estreito interno e estreito externo.

Quando um indivíduo mantém o primeiro tipo de foco, ele é capaz de organizar e integrar um grande número de pensamentos e percepções, é o estilo adequado para analisar e planejar ações. O segundo estilo permite ao sujeito explorar, perceber e organizar um grande número de estímulos externos, é o foco adequado frente à situações complexas e com um grande nível de informação. O terceiro tipo auxilia a pessoa a focalizar a atenção para uma determinada linha de pensamento, e é adequada para solucionar problemas concretos ou para meditar. O último estilo atencional ajuda o indivíduo a focalizar a atenção para uma atividade mais ou menos complexa evitando as distrações, com o objetivo de realizar uma determinada ação, e é adequado para um grande número de esportes.

A amplitude do foco faz referência à quantidade de estímulos aos quais o atleta deve prestar atenção a cada instante. Sendo que o foco amplo está relacionado com um grande número de estímulo e o foco estreito com apenas um ou dois estímulos mais importantes. Já a direção do foco, faz referência a dirigir a atenção para aspectos externos ou internos do indivíduo.

Uma pesquisa realizada na Espanha por Solanellas, Font & Rodríguez (1996) com jogadores de tênis sobre estilos atencionais (215 tenistas do sexo masculino e 215 do sexo feminino, com idades variando de 12 à idade adulta), os autores utilizaram uma versão adaptada do teste TAIS de Nideffer (1976), onde mostrou que a grande maioria dos jogadores usava um foco estreito durante os jogos (83.85%). Já em relação à direção do foco, os resultados mostraram uma predominância do foco externo (64.60%), porém com uma diferença significativa entre sexo masculino (58.8%) e feminino (71.1%).

Diversos autores realizaram pesquisas relacionando o tipo de foco de atenção e o desempenho, entre os quais destacam-se Robazza, Bortoli & Nougier (1998) que trabalharam com atletas de alto nível, do sexo feminino, da seleção italiana da modalidade de arco e flecha; Radlo, Steinberg, Singer, Barba & Melnikov (2002) com indivíduos que deviam lançar dardos tentando acertar num alvo na parede, os sujeitos eram divididos em dois grupos, um com foco interno e outro com foco externo; Shea & Wulf (1999) avaliou a influência sobre a aprendizagem da atenção num foco externo ou interno e do feedback de foco externo ou interno. Wulf, McConnel, Gärtner & Schwarz (2002) realizaram um estudo com dois experimentos realizados no campo, um com voleibol e outro com futebol. Os resultados desses estudos indicam que o uso do foco de atenção externo, em atividades "fechadas" (saque no tênis), está relacionado com um melhor desempenho nas tarefas executadas pelos sujeitos.

Conclusão

Antes de cada ponto e durante os intervalos entre os pontos os jogadores devem preparar-se da melhor maneira possível para que sua atenção seja adequada ao iniciar o ponto. É importante que esses saibam que tipo de foco utilizar nas diversas situações do jogo. No saque o tenista tem controle sobre a situação, sobre a bola a ser lançada e tem tempo para decidir o que pretende fazer. Além disso, os autores afirmam que neste tipo de tarefa o atleta pode preparar uma estratégia, um plano de ação, um protocolo, uma rotina ou um ritual pré-performance (Lindor & Singer, 2003).

Essa rotina é dividida em fases que auxiliam o tenista a manter a sua atenção durante os jogos. Ela geralmente é composta de atividades que exigem mudanças de foco de atenção, tais como: olhar para as cordas da raquete (foco externo - estreito), relaxamento e respiração (foco interno - estreito), plano tático para o ponto (foco interno - amplo), visualização (foco interno - estreito) e focalização do alvo (foco externo - estreito). Na devolução os tenistas também devem estabelecer rotinas e manter um foco externo - estreito para detectar indícios, no movimento de saque do adversário, que permitam antecipar o tipo de bola e a sua trajetória, melhorando a eficiência da resposta. 
 
Quadro 1. Quatro diferentes tipos de foco de atenção (adaptado de Murray, 2002).
 
              
                         

Referências:

• Cervelló, E. M. G. (1999). Introducción al entrenamiento psicológico. Em J. P. F. García (Org.). Enseñanza y entrenamiento del tenis. (pp. 145-182). Cáceres, Espanha: Universidad de Extremadura. Servicio de publicaciones.
• Guallar, A., Pons, D. (1994). Concentración y atención en el deporte. Em I. Balaguer (Org.), Entrenamiento Psicológico en el Deporte. (pp. 207-245). Valencia, Espanha: Albatros Educación.
• Lindor, R., Singer, R. N. (2003). Preperformance Routines in Self-Paced Tasks: Developmental and Educational Considerations. Em R. Lindor & K. P. Henschen (Org.), The Psychology of Team Sports. (pp. 68-98). Morgantown, Estados Unidos da America: Fitness Information Technology, Inc.
• Martens, R. (1987). Coaches guide to sport psychology. Champaign, Estados Unidos: Human Kinectics Publishers.
• Murray, J. F. (2002). Tenis inteligente: Como jugar y ganar el partido mental. Barcelona, Espanha: Editorial Paidotribo.
• Radlo, S. J., Steinberg, G. M., Singer, R. N., Barba, D. A., Melnikov, A. (2002). The influence of an attentional focus strategy on alpha brain wave activity, heart rate, and dart-throwing performance. International journal of sport psychology, 33 (2), 205-217.
• Robazza, C., Bortoli, L., Nougier, V. (1998). Physiological arousal and performance in elite archers: A field study. European psychologist, 3 (4), 263-270.
• Samulski, D. M. (2002). Psicologia do esporte. Barueri: Manole.
• Shea, C. H. & Wulf, G. (1999). Enhancing motor learning through external-focus instructions and feedback. Human movement Science. 18, 553-571.
• Solanellas, F., Front, J. & Rodríguez, F. A. (1996). Prevalencia del estilo atencional en la población catalana de tensitas. Apunts Educación Física y deportes, 44 - 45, 154-163.
• Weinberg, R. S. & Gould, D. (2001). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. (M. C. Monteiro, trad.). Porto Alegre: Artmed. (2aEd.).
• Weinberg, R. S. (1988). The mental advantage: Developing your psychological skills in tennis. Champaign, Estados Unidos: Leisure Press.
• Wulf, G., McConnel, N., Gärtner, M. & Schwarz, A. (2002). Enhancing the learning Sport Skills through External-Focus Feedbac. Journal of Motor Behavior, 34(2), 171-182.
 
Laurent Olivier Abes
Trabalha com tênis desde 1994, sendo sócio-proprietário da Mental Tennis Serviços Esportivos Ltda. É formado em Educação Física e Mestre em Psicologia pela Universidade Fededal de Santa Catarina (UFSC). Desde 2003, dedica-se a treinamento mental. É membro do Laboratório de Neurociências do Esporte e do Exercício da UFSC e do Núcleo de Estudos em tênis da Campo da UFSC. e-mail: laurentabes@hotmail.com

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